O que dizer do meu gato Fliper? Flipado, Pipo, meu menino! Os nomes que ao longo de uma vida de quase 20 anos o Fliper ouviu. Desde o seu início de vida, difícil, rejeitado, até chegar a minha casa depois de ter sido "obrigada" a adormecer a Sabina, nesse ano de 2004. Ninguém o queria, sofrera um acidente não se sabe como, que lhe fez ficar com o maxilar inferior partido e na sequência a perda do dente canino. Eu também não o queria mas não resisti à sua história de desamparo. Traquinas, este menino não deu mais problemas de saúde, sentou ao colo do meu pai que já partiu, protegeu-nos de um assalto, acolheu todos os gatos que vieram entretanto, como o Baltazar que viveu 22 anos, a Ny e recentemente a Mimi. O Fliper era o nosso elo ligação. Tudo entendia, tudo controlava. Era um amigo leal, defensor do velho Baltazar, o que não impedia que além da comidinha dele, a dos outros também ia. Ninguém se zangava com ele. Sempre que eu limpava o chão o seu divertimento era escorregar no molhado com as longas patas brancas. Nos últimos anos, cego, tateava com a patita esquerda a água para evitar de lhe enfiar o narizito cor de rosa. Apesar de uma insuficiência renal, o Fliper não desistia, da sua manta que tratava como se fosse uma gata gostosa, do seu paté com molho, da sua água, do balde de água, do meu copo de água também. Sempre me acolhia à porta quando chegava do trabalho e logo pedia comida. Infelizmente além de meio cego, também ficou senil que se manifestava com miados guturais de gato com cio. Miados que duravam muito durante a noite. A insuficiência renal piorou, tentei medicá-lo com soro primeiro na clínica veterinária, depois em casa com a ajuda de uma vizinha que também tinha 2 cães aos quais administrava o soro pelo mesmo motivo. Mas o Fliper do alto dos seus 19 anos, recusou tudo e defendeu-se com fúria. Fúria essa que desaparecia de imediato assim que fosse afastado o motivo da sua raiva. O mesmo acontecia quando a médica o ia visitar para as vacinas e consultas: tornava-se um gato feroz para logo de seguida tornar-se um gato doce. A situação complicou-se durante a semana passada e na noite do dia 10 e madrugada de 11 de janeiro, o Fliper gemia tristemente pedindo comida mas nada comendo. Seis pratos com pequenas porções do seus patés com molho, hidracare e nada! Chegava-se à comida e largava-a logo dirigindo-se para a água. Pelas 4h da manhã do dia 11 de janeiro enviei mensagem à médica. Ela respondeu e pelas 14h30 veio visitar-nos. Convencida que seriam dentes, abriu a boca e nada a não ser o cheiro intenso da ureia. O meu menino estava com uma insuficiência renal grave e morreria dentro de 12 horas em grande sofrimento. A decisão teve de ser tomada e o meu querido menino foi adormecido com uma anestesia fatal mas à qual não pôs resistência, pela primeira vez na sua vida. Todos choramos incluindo a médica que o conhecia desde sempre, mas o Fliper pacificamente adormeceu sem qualquer gemido, sem dor. E pela primeira vez na minha vida, depois de ter perdido tantas pessoas queridas, tive a coragem de tocar num corpo sem vida. Não havia qualquer fronteira entre a vida e a morte. As duas eram uma! E o meu Fliper está agora definitivamente ao colo do meu querido pai, para sempre!