segunda-feira, 22 de maio de 2023

No Bairro do Talude

Este foi um dia diferente, aquele em que conheci um Bairro com construções em cimento feita pelos moradores, em comunidade e onde se planta a cana do açúcar e dela se faz uma bebida alcoolica, o grogue!

Este bairro tem uma grande comunidade cabo-verdiana não deixando no entanto de por lá viverem gentes de outras culturas e países. Pessoas que nos ajudaram a construir as cidades, que limpam as nossas casas, que lutam por habitação digna, acesso a água e eletricidade. Chegando ao campo de jogos 1.º de Maio no Catujal sobe-se uma estrada que deixa de ser de alcatrão e vamos conhecendo o Bairro. 

Tínhamos programa de visita guiada pelo Rolando, da AMRT Associação para a Mudança e Representação Transcultural, que começaria pelas 10h com prova de cuscuz e passeio pelo bairro e pelo que se faz, a sua história e as suas esperanças. No entanto, houve algum atraso e a prova acabou por ser pelas 11h e tivemos o prazer de provar o cuscuz que dá muita energia ao povo pois é confecionado com farinha de milho com mistura que pode ser com trigo ou fécula de batata, água, açúcar e canela. Depois é cozido num vaso de barro especial em banho maria. Pode comer-se com manteiga, doce, queijo ou também em vez de açúcar pode ser um bolo salgado. A visita ao bairro levou-nos por caminhos de ervas secas, hortas, canas e cana do açúcar. A água para regar as hortas é recolhida em grandes bidons de caleiras colocadas nos telhados dos abrigos que se encontram nas hortas. A eletricidade também é recolhida ilegal e perigosamente e atravessava-se aos nossos pés. 

O bairro encontra-se no alto e de lá avista-se toda a zona oriental de Lisboa com a Ponte Vasco da Gama e vista para o Tejo e o Trancão. 

Depois fomos conhecer a destilaria e o Sr. Mundinho que parecia desconhecer o dia em que nascera: assistimos à transformação da cana em grogue nas suas fases de recolha do sumo, fermentação e finalmente a filtragem. Acabei a experimentar o sumo e o dito com o grogue. Não quis o grogue puro pois não sou apreciadora de álcool. O Sr. Mundinho foi convidado para o almoço no único restaurante que havia no bairro.

No percurso para o Restaurante, ainda houve algumas paragens de conversa com gente do bairro e Rolando, onde as gentes reclamavam da falta de água. Claro que a culpa era da Associação, dizia um deles.

Pelas 13h lá chegamos ao Restaurante com um letreiro ilegível conseguindo perceber-se a palavra Restaurante e Trancão. Apesar da falta de água lá consegui utilizar a casa de banho mas não lavei as mãos. Depois chegou a Cachupa que aguardava com paciência pois percebi que aquele era um ritmo diferente do meu. Muito boa confecionada com milho e feijão, carne de porco, chouriço, morcela e depois com jindungo como se chama ao piripiri na minha terra, ficou perfeita! A acompanhar tivemos música tocada à viola e cantada pelo Marcelo um dos habitantes do Bairro.

Perto das 15h estava na hora de nos virmos embora para o encontro seguinte: não bebemos o café por falta de água, mas comemos mais um bolinho feito com canela. A cachupa estava a fazer algum efeito de sonolência, mas ainda queria desenhar.

Voltamos à AMRT e encontramo-nos com o Lisbon Drawing Club que nos desafiara para esta visita neste local que nos transforma de alguma maneira, pelo menos a mim. Acabamos o dia desenhando alguns dos locais e mornas no final cantadas e tocadas pelo Marcelo.














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