domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Leiteira e o balde

Scrapperbord e acríclico:

Intervalo com o João


Pediram-me um quadro e escolhi o nosso grande pintor naturalista João Vaz para me inspirar. Apesar de ser um trabalho um pouco exigente fico sempre admirada pois começo a pintar cansada e depois de tudo terminado sindo uma tranquilidade reparadora e uma energia que não sei de onde vem. Muitas vezes sinto este hobby como um empréstimo e quando desenho ou pinto sinto como se reincorporasse outra pessoa. Julgo que esta impressão acontece porque todos os dias faço um trabalho profissional muito diferente, mais racional, normalizado e impessoal que me obriga a esqueçer este Eu e quando finalmente me vejo perante um papel ou uma tela, é com sofreguidão que desenho e pinto para aproveitar o tempo que ainda tenho para me encontrar nesse cantinho dos sonhos antes do fim. É como morrer e nascer de novo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Gravura em pacotes de leite

Entretanto nos intervalos do trabalho profissional e do trabalho doméstico e das aulas, fui a um workshop de gravura em pacotes de leite. Este consistiu em aproveitar os pacotes de leite e gravar desenhos no seu interior com uma ponta seca ou com x-acto. Depois passava-se tinta para gravura nas matrizes e imprimiam-se as imagens em papel Fabriano. Já comprei os outros instrumentos necessários para fazer outras ilustrações em casa. Aqui estão as experiências:


A Menina do Mar II

Mais alguns desenhos para a Menina do Mar.

A caneta aparo..


Em acrílico e pastel de óleo..

e uma técnica antiga que reapareceu recentemente: o scraperboard.


Esta técnica consiste em riscar um cartão pintado a preto com umas facas fazendo aparecer cor branca por baixo da cor preta. Antigamente o cartão era coberto por gesso e depois de lixar para o alisar, era pintado com tinta indiana preta. Após a secagem o desenho era raspado com as facas. Se houvesse erro este era coberto de novo pela tinta deixava-se secar e era raspado de novo. Os suportes que agora existem para esta técnica não permitem correções mas é muito interessante o efeito. Experimentei cobrir os cartões com gesso acrílico e depois com tinta da china mas após um dia de secagem, o gesso rachou. O tempo que demora e o custo é excessivo e cheguei à conclusão que é melhor comprar os suportes. Vou aproveitar os que tratei para praticar esta técnica experimentando o efeito de cada uma das facas.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Cezanne e A menina do mar I

A semana passada foi de experiências que incluiram gravação em pacotes de leite e mais uma nova ilustração inspirada num pequeno excerto de uma história de Sophia de Mello Breyner Andresen, A menina do mar. A história sobre um menino solitário à beira-mar era tão bela que me apeteceu ilustrar tudo!E por isso fiz alguns pequenos esboços a lápis..

De seguida tentei ilustrar um a um e o primeiro foi a tinta da china, lápis e aguarela

"..Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limo, de búzios, de anémonas, de lapas, de algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos, cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias polidas pelas ondas. E a água do mar era transparente e fria..."

e depois comecei a desenhar a menina do mar e idealizei-a com pele de escamas, cabelos longos ondeados como o mar, mãos semelhantes a barbatanas e mais tarde acrescentei um rabo de peixe (devem ser assim as sereias) e tentei de novo a tinta da china e aguarela. Só que a tinta da china não era permanente e a tinta misturou-se um pouco com a aguarela. Esta imagem terei que tentar de novo pois ainda não me satisfaz.

"... o rapaz pousou na areia um copo cheio de vinho...a Menina do mar bebeu o vinho, ria-se e disse: É bom e é alegre."

Na aula estamos a experimentar com acrílicos e pasteis e mais à frente iremos tentar uma nova técnica: o scraperboard.

Ao mesmo tempo pediram-me uma pintura (um díptico) em cores cinza e escolhi um pormenor de uma paisagem de Cezanne:



e é tudo por agora..

domingo, 8 de janeiro de 2012

Ilustrações de capas de discos

Chegou 2012 e parece que também a primavera! Os dias solarengos e de atmosfera suave deixam-me nostálgica! Claro que à sua maneira já ouço "Isto vai dar uma grande seca.. Está bom demais!". Como continua a ser hábito não vivemos o presente e antecipamos sempre algo que ainda não aconteceu e poderá não acontecer.. Mas eu não quero saber do futuro. Hoje está um lindo dia, fresco e de sol e este é o meu planeta preferido, portanto aceitei outro "desafio": ilustrar capas de discos. O exercício consistiu em ilustrar a capa do meu álbum favorito e a capa do album favorito de outro colega.

O meu album favorito desde que apareceu nos anos 70 até hoje sem vacilar é o album de opera-rock de Andrew Loyd Weber e Tim Rice, Jesus Cristo Superstar e quase tive a ponto de o renegar como o apóstolo Pedro renega Jesus pois logo me assustei. Como iria interpretar uma música tão forte e harmoniosa, que nos levava aos tempos dos últimos dias de Cristo, a traição de Judas o amor de Maria Madalena e a fusão do presente (época de Jesus) e o futuro (anos 70)? Estas aulas de 4 horas matam-me! Preciso de mais tempo! Desesperada, na aula só me ocorria o deserto as montanhas o rebanho e o pastor e assim pintei a lápis de cor ....


Para minha surpresa e alguma desilusão, o prof aprovou!

Mas no dia seguinte ainda pensativa, fui à casa de banho e quando de lá saí vinha com outra ideia que reproduzo:


 e mais de perto, pintado a lápis de cor e grafite:


Este já é o meu Cristo, um homem entre a paz (raminhos de oliveira no chão) e a guerra (tanque de guerra) num mundo seco e árido..

O outro álbum escolhido ao acaso era o "ComicOpera" de Robert Wyat, descrito como um músico que faz alguma experimentação em termos musicais, um pouco louco (só pode pois atirou-se de uma janela com 20 anos ficando paraplégico) mas que encontra finalmente uma paz refazendo a sua vida. Lembrei-me da famosa fenix e na aula e depois em casa, terminei o exercício.

a lápis e a pastel de óleo esgrafitado:



Gosto realmente muito das aulas de ilustração mas tenho consciência que se não tivesse alguma base de aprendizagem no desenho e técnias de pintura, não conseguiria realizar qualquer um destes exercícios! Pergunto-me se o propósito de quem faz os bons programas que nos motivam a procurar estes cursos, deseja realmente que o aluno aprenda e que execute com qualidade alguma coisa? Espero estar enganada, mas a composição, a pesquisa do assunto a ilustrar, a experimentação de novas maneiras de ilustrar uma imagem para obter o seu maior impacto, já devia ter tido lugar, e não observo isso. Na última aula não tive tempo de mostar as ilustrações que ele pediu para acabarmos em casa e vou tentar que as veja mais estas últimas, na próxima aula.

O corcunda

Continuando.. o curso de ilustração artística durante as últimas semanas deu-me outros desafios:

O primeiro foi ilustrar a capa de um livro com base numa sinopse: o livro conta a história de um trio amoroso composto por um anão corcunda (julgo que simpático) que conquista uma mulher desiludida por um amor anterior, um homem bem-parecido mas inconstante e que a abandona. Esta mulher tem uma loja no sul dos Estados Unidos e o anão veio trazer-lhe alegria à vida e transforma a loja num café. Ao fim de algum tempo de felicidade chega o ex e dá-se início ao tal trio... Estas aulas são de apenas de 4 horas e para criar e executar uma capa de um livro pelo menos aceitável eu velha que sou e com alguma autocrítica preciso de mais tempo. E então continuei em casa pelo Natal e final de ano e junto os resultados:

a Lápis:



a pincel e aguarela:



Depois reparei que o anão não estava muito corcunda...
e alterei


Difícil mesmo foi desenhar o chapéu do "bem-parecido". A copa devia ser mais larga pois é mais pequena que a cabeça. Paciência.. amanhã faço outro!